Em Gênesis 3, quando Adão e Eva pecaram, ficou claro que eles pecaram por fazer algo que lhes era proibido. A partir daí, sempre a humanidade se distanciou de Deus porque, a cada dia, mais e mais se praticava aquilo que era proibido.
Passado alguns séculos, graças à misericórdia divina, algumas pessoas, no caso os israelitas, começaram a propor algo inovador: Assim como o homem se distanciou de Deus é possível ao mesmo se aproximar de Deus pela própria vontade de estar com Ele. Surge então o jejum. Mas o que é isso? Qual a finalidade? Se Adão e Eva pecaram por fazer algo que lhes era proibido, ou seja, pecaram por comer algo que não era permitido fazendo-os se distanciarem de Deus, agora o ser humano deixa de comer algo que lhe é permitido para se aproximar de Deus. O jejum é uma troca de valores.
A prática do jejum é algo notório até aos dias de hoje. Mas infelizmente sua compreensão se tornou mesquinha e vulgar. É aí que entra a segunda pergunta feita acima: Qual a sua finalidade? Vejamos alguns pontos abaixo que melhor explicam isso:
O jejum não serve de barganha com Deus: Deus não é um ser de trocas. Aliás, Ele nem precisa disso. Não é porque você faz que Ele verá mérito nisso e lhe recompensará. Deus não dá por troca; dá por graça. Hoje em dia o que se vê são muitos jejuns com o intuito de se alcançar um alvo, ou para que Deus mude uma situação, ou para que uma resposta seja dada. Não que isso não aconteça, mas não é por troca. O jejum muda, mas não é Deus e sim você. Mas o que é jejum?
O jejum não é para aparecer: Muitos jejuam por prática; por mero calendário. Jejum não é marcado na folhinha de calendário. É algo espontâneo. "Deu vontade? Vai lá e faz". E se é marcado no calendário cuidado para que não vire liturgia, rotina, rito, mero afazer do cotidiano. O jejum é a busca por Deus e Sua ação transformadora. É negar-se e buscar algo diferente, algo que melhore a forma de ser. Logo, jejuar é se achegar a Deus de forma voluntária e humilde. É propor uma troca: O egoísmo pelo teocentrismo. Mas o que é jejum?
O jejum não tem poder: Muitos jejuam para expulsar demônios (não que não deva jejuar para isso), para terem poderes divinos, para serem mais santos, para terem uma auréola na cabeça, etc. Jejum não é para isso. Quando se jejua o que acontece é uma aproximação do jejuante a Deus. Nessa aproximação, aquele que jejua, se transforma, uma vez que ele nega suas vontades para receber as de Deus. Assim, fica mais fácil entender a passagem "Essa casta só é expulsa por jejuns e orações" (Mt 17.21). Não é o jejum que expulsa, mas o aproximar a Deus e receber Dele novas instruções de fé que transformam não só o jejuante como também o seu redor. A casta não era expulsa não por falta de poder, mas por falta de instruções divinas e por falta de maior intimidade com a situação do endemoniado. O jejum transforma a pessoa deixando-o mais próximo de Deus. É isso que expulsa a casta: Deus. Mas o que é jejum?
O jejum não é apenas deixar de fazer algo que é permitido: É mais que isso. É, além disso, orar para que tal atitude tenha efeito. Todas as vezes em que se jejua de nada vale o referido ato se não houver os momentos de orações. Um exemplo simples é: Quando se fizer jejum de uma fruta da qual se gosta muito, sempre que vier a vontade de comê-la você se lembrará que está fazendo jejum e, concomitantemente, deve vir a oração dirigida a Deus como substituição do ato de comer o fruto desejado. Logo, o jejum serve de lembrete da necessidade de oração.
Mas, afinal, o que é jejum e para que serve?
De forma sintética e objetiva, jejum é o ato voluntário de um homem ou mulher que evita comer, usar ou usufruir de algo que lhe é permitido para simplesmente se achegar a Deus, de forma humilde, buscando transformação própria e evitando o pecado, para que novos objetivos de vida sejam introduzidos na mesma alimentando-a.
Sendo assim o jejum não muda Deus, pois este é imutável. O jejum muda o próprio jejuante quando este percebe seu desvio e volta para o caminho melhor. Não trás poder porque o poder é somente de Deus. As transformações poderosas estão na vida do jejuante pelo fato de este compreender melhor o caminho que se deve seguir. Jejum não dá poder, o leva para o Poderoso. Jejum não é ritual mas entrega voluntária de efetiva busca de transformação. E acima de tudo, jejum é a busca por Deus e tão somente por Ele deve ser a busca.
Por Carlos Chagas
Fonte: cristaoshoje.blogspot.com.br